Coisas que tomam forma
e depois se desfazem, e que, seguindo o ciclo, se reconstroem. Essa é a nova
tônica da contemporaneidade. Andei pensando na noção de eternidade atualmente e
cheguei a algumas reflexões. Essa noção está ficando falida, parece que está
meio que démodé. Acredito que sair da moda tenha sido uma excelente
contribuição do crescimento “sócio- histórico- cultural” em relação à noção de
eterno. Sempre acreditei, durante muito tempo na vida, que o que é eterno é melhor. Achava que tudo que era eternizado era realmente importante e
significativo. Mas desconstruí essa
idéia com muita leitura, com alguma vivência e com muito processo de reflexão.
A eternidade pode escravizar
as pessoas em sonhos e metas desnecessárias. Escravizar no sentido de
prendê-las a algo que já não as detém. Profissões, amizades, relacionamentos, enfim,
práticas que muitas vezes já tiveram o seu momento, mas que infelizmente por
demanda do tempo, se esgotaram. Mas a noção romântica e cartesiana impregna
nossos pensamentos e nos atormenta em relação ao que tem que durar “para todo o
sempre.” Seja em qualquer uma das esferas de nossa vida, essa mania de
eternidade demasiada humana atropela todas as coisas e perpassa nosso caminhar.
Atualmente, com toda fluidez das relações, percebemos que está um pouco mais
fácil se desprender do “fantasma da eternidade”. As pessoas já conseguem
ponderar sobre as suas próprias decisões incluindo “a não eternidade” em suas
escolhas. Já não é tão gritante não se apegar ao eterno. Tornou-se mais fácil
com as modificações sociais e de relações humanas que sempre estamos passando.
Essa maleabilidade do quesito relação proporcionou um novo tônus ao eterno.
Então ele é, atualmente, “enquanto dure”, como já diria certo “poetinha”. É
fantástico poder ter a liberdade de não se prender pela mania de eternidade.
Isso demonstra maturidade, compreensão e dinamismo.
Certamente, pensamos
juntos que existem muitas coisas que poderiam ser eternas sim. Mas pensando de
uma maneira mais “desapegada”, tudo que pára no tempo junto com a eternidade,
não proporciona renovação de ciclo, não possibilita engatar a mudança. As
unanimidades, as “rainhas”, “reis” e “princesas” da mídia que ficam eternizados
nas memórias da massa impossibilitam que chegue o que é novo e que também pode
ser bom, ou até mesmo melhor do que os que ganharam títulos. E o povo eterniza:
“a rainha disso”, “o melhor de todos os tempos.” Estagnar as coisas, prendê-las
no tempo para empurrar o eterno “goela abaixo” faz o homem se tornar um pouco
ignorante. Evidencia certo desconhecimento sobre as mil possibilidades que a
vida pode trazer. Eternizar tudo é muito mais fácil do
que admitir o novo e a mudança de algumas coisas. Cômodo, aconchegante,
confortável, demanda menos gasto de energia. Porém tira o sabor do fruto
essencial e prazeroso da dinâmica da vida: o mistério. O que vem do que não
precisa ser eterno. O que virá daí? Mistério. Ando sempre em busca do âmago do
mistério. Um pouquinho de dúvida e de renovação sempre é tentador. Eternidade tem
que ser finda. Essas coisas sim ficarão, deixarão saudade, farão os olhos
brilharem algumas vezes. Quando os olhos já não brilham, por mais que se queira
insistir e esgotar para se atingir o eterno, talvez não seja justo com o que
faça ascender o brilho incerto. Talvez incerteza seja a palavra.
Acho que de eterno só o amor por familiares e a paixão, o tesão, a vontade naquilo que gostamos e fazemos...
ResponderExcluirMe lembra muito uma propaganda do Johnnie Walker na qual um robô passava a seguinte mensagem.. "você também pode alcançar a imortalidade... basta apenas fazer uma grande coisa notável."
Bob que não é Marley! hahaha! Johnnie Walker? Sei, algumas doses são interessantes. hahaha. Porém, concordo em partes, fazendo uma coisa notável não quero alcançar a imortalidade não. Como disse, prefiro que as coisas sigam seu fluxo e tragam outras. E sobre família, essa sim é uma boa eternidade. Tesão? Depende de pelo quê. Paixão? Essa é a menos eterna de todas. E vontade também às vezes vai embora.
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