Transtorno: aquilo que tira de um eixo aceitável, da normalidade, da linha que se deve seguir. Tudo que sai do figurino social aceitável recebe este nome. Aqueles que desconfiguram o cenário da normalidade em algum aspecto podemos chamar de "transtornados". Estão fora da consciência plena, fazem parte de uma cadeia que padece por estar à margem em algum sentido. Todos que estão no grupo dos "transtornados" fazem de suas vidas um martírio da tentativa de enquadrar ou se reenquadrar na normalidade. Ficam em sofrimento por não conseguirem se voltar ao núcleo dos aceitos e funcionais. É proibido sentir dor, angústia, medo, obsessão, delírio. alucinação, ansiedade, pânico, culpa, tristeza. Os "transtornados" seguem o percurso vivendo com o objetivo de serem o que não para serem o que querem que sejam. Correm para psiquiatras, tomam remédios e fazem o possível para entrarem no padrão outra vez. As vezes essa classe de sujeitos desfavorecidos de "plena saúde mental", como descrevem os manuais de psiquiatria, querem apenas vivenciar a sua não linear forma de se ajustar. Precisam de um tempo a mais, às vezes uma vida toda para compreenderem a sua forma peculiar de estar sendo no mundo. São lentos demais ou rápidos demais, pensam diferente, sentem mais intensamente as emoções. Estão fora do padrão vendido pela pós-modernidade e seus dispositivos de existência de uma felicidade estampada, inabalável, mostrada em redes sociais, em mídias adoecidas e bate papos fúteis. Os seres desajustados e transtornados mostram para essa sociedade cronicamente hedonista a possibilidade de não-ser o que ela prega. Gritam que são diferentes e sofrem por não se acharem. Os "transtornados" transformam sua realidade de maneira desajustada assim como o patinho feio. Alguns sucumbem na tentativa desesperada de ser o que não podem para olhos verem. Olhos de quem? Vivemos para quem assistir? A sociedade ajustada desajusta. Então será que ela é tão convincente assim? Será que estamos imersos em um conta de fadas contemporâneo perverso? Os "transtornados" continuam a vagar em suas tentativas, mas mostram a cada década uma sociedade doente pelo perfeito. Quem será que foge do controle?