"Sabe quando a água transborda o limite do balde?". Foi com essa simples metáfora que percebi como a forma que levamos a vida pode passar do nosso próprio controle e ficar desenfreada. Então o acúmulo de anos, meses, dias de vida de repente perde o domínio na nossa própria imaginação e pensamentos. Toda a sua história que foi vivida de maneira agitada, nervosa, preocupada alguma hora vai desaguar no mar da ansiedade, que está esperando só uma oportunidade para isso.
A agitação contemporânea, a quantidade de informações rápidas, de mudanças, de efemeridades, de intensidades que a sociedade nos empurra são todas grandes vilãs para os ansiosos. Parece que tudo é para hoje, o futuro fica desesperador, são muitas as preocupações: vencer, ter um grande emprego, ter um salário alto, ter uma companhia, ter sucesso, reconhecimento, prazer, amor, felicidade. Estamos vivendo uma ditadura da vida que nos adoece. São tantas cobranças e imposições que não sabemos até que ponto estamos participando tão ativamente delas. A vida se tornou uma urgência generalizada, estamos vivendo com pressa de tudo. O tempo parece correr num tic-tac patogênico, ninguém se preocupa no presente, no dia que está acontecendo que já é por si só uma vida, um acontecimento único aquele despertar de um novo dia.
A neurose que tanto nos assombra encontra exercício em todo esse bojo de exigências, tanto pessoais quanto sociais. Por isso, o balde transborda e vêm todas as coisas temidas, mas que não fizemos nada para evitar. Depressões, TAG´s, TOC´S, Pânicos, Fobias, etc. Tudo o que estamos vendo e temendo nos acomete aos poucos e a gente só percebe quando está no olho do furacão. Passamos a ter medo do que nunca tivemos, a pensar coisas que nunca pensamos e estranhar nossa própria existência, e às vezes, nem suportá-la.
Se o ser humano aprende tudo isso, se ajusta nos TOC´s, nos TAG´s, Depressões, Fobias e Pânicos, por que não se ajustar de uma maneira diferente frente a esse mundo cheio de estímulos? Por que não fazer como diz Cazuza, “nadar contra a corrente”? Talvez devemos usar a nossa criatividade humana para poder mudar o nosso próprio percurso e dizer um tchau aos adoecimentos. Mas para tudo isso, para ter criatividade, antes de tudo, é preciso ter coragem e enfrentar os próprios medos, se encarar e seguir por um novo caminho. O auto-conhecimento não se torna tão doloroso e caminhar em águas mais tranquilas é muito mais prazeroso quando já passamos por um maremoto.