Transtorno: aquilo que tira de um eixo aceitável, da normalidade, da linha que se deve seguir. Tudo que sai do figurino social aceitável recebe este nome. Aqueles que desconfiguram o cenário da normalidade em algum aspecto podemos chamar de "transtornados". Estão fora da consciência plena, fazem parte de uma cadeia que padece por estar à margem em algum sentido. Todos que estão no grupo dos "transtornados" fazem de suas vidas um martírio da tentativa de enquadrar ou se reenquadrar na normalidade. Ficam em sofrimento por não conseguirem se voltar ao núcleo dos aceitos e funcionais. É proibido sentir dor, angústia, medo, obsessão, delírio. alucinação, ansiedade, pânico, culpa, tristeza. Os "transtornados" seguem o percurso vivendo com o objetivo de serem o que não para serem o que querem que sejam. Correm para psiquiatras, tomam remédios e fazem o possível para entrarem no padrão outra vez. As vezes essa classe de sujeitos desfavorecidos de "plena saúde mental", como descrevem os manuais de psiquiatria, querem apenas vivenciar a sua não linear forma de se ajustar. Precisam de um tempo a mais, às vezes uma vida toda para compreenderem a sua forma peculiar de estar sendo no mundo. São lentos demais ou rápidos demais, pensam diferente, sentem mais intensamente as emoções. Estão fora do padrão vendido pela pós-modernidade e seus dispositivos de existência de uma felicidade estampada, inabalável, mostrada em redes sociais, em mídias adoecidas e bate papos fúteis. Os seres desajustados e transtornados mostram para essa sociedade cronicamente hedonista a possibilidade de não-ser o que ela prega. Gritam que são diferentes e sofrem por não se acharem. Os "transtornados" transformam sua realidade de maneira desajustada assim como o patinho feio. Alguns sucumbem na tentativa desesperada de ser o que não podem para olhos verem. Olhos de quem? Vivemos para quem assistir? A sociedade ajustada desajusta. Então será que ela é tão convincente assim? Será que estamos imersos em um conta de fadas contemporâneo perverso? Os "transtornados" continuam a vagar em suas tentativas, mas mostram a cada década uma sociedade doente pelo perfeito. Quem será que foge do controle?
Lugar para acrescentar, multiplicar, debater, refletir. Escritos sobre a vida e o ser humano que falam sobre as dores e delícias de sermos o que somos. Não existem objetivos definidos, apenas o de chegar até as pessoas e fazê-las exercitar o pensar. Esse é o maior propósito: movimentar o pensamento e a reflexão, sem muitas amarras acadêmicas, apenas criar alguns esboços sobre nós mesmos.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
sexta-feira, 7 de junho de 2013
A sombra da neurose te persegue a quantos anos?
"Sabe quando a água transborda o limite do balde?". Foi com essa simples metáfora que percebi como a forma que levamos a vida pode passar do nosso próprio controle e ficar desenfreada. Então o acúmulo de anos, meses, dias de vida de repente perde o domínio na nossa própria imaginação e pensamentos. Toda a sua história que foi vivida de maneira agitada, nervosa, preocupada alguma hora vai desaguar no mar da ansiedade, que está esperando só uma oportunidade para isso.
A agitação contemporânea, a quantidade de informações rápidas, de mudanças, de efemeridades, de intensidades que a sociedade nos empurra são todas grandes vilãs para os ansiosos. Parece que tudo é para hoje, o futuro fica desesperador, são muitas as preocupações: vencer, ter um grande emprego, ter um salário alto, ter uma companhia, ter sucesso, reconhecimento, prazer, amor, felicidade. Estamos vivendo uma ditadura da vida que nos adoece. São tantas cobranças e imposições que não sabemos até que ponto estamos participando tão ativamente delas. A vida se tornou uma urgência generalizada, estamos vivendo com pressa de tudo. O tempo parece correr num tic-tac patogênico, ninguém se preocupa no presente, no dia que está acontecendo que já é por si só uma vida, um acontecimento único aquele despertar de um novo dia.
A neurose que tanto nos assombra encontra exercício em todo esse bojo de exigências, tanto pessoais quanto sociais. Por isso, o balde transborda e vêm todas as coisas temidas, mas que não fizemos nada para evitar. Depressões, TAG´s, TOC´S, Pânicos, Fobias, etc. Tudo o que estamos vendo e temendo nos acomete aos poucos e a gente só percebe quando está no olho do furacão. Passamos a ter medo do que nunca tivemos, a pensar coisas que nunca pensamos e estranhar nossa própria existência, e às vezes, nem suportá-la.
Se o ser humano aprende tudo isso, se ajusta nos TOC´s, nos TAG´s, Depressões, Fobias e Pânicos, por que não se ajustar de uma maneira diferente frente a esse mundo cheio de estímulos? Por que não fazer como diz Cazuza, “nadar contra a corrente”? Talvez devemos usar a nossa criatividade humana para poder mudar o nosso próprio percurso e dizer um tchau aos adoecimentos. Mas para tudo isso, para ter criatividade, antes de tudo, é preciso ter coragem e enfrentar os próprios medos, se encarar e seguir por um novo caminho. O auto-conhecimento não se torna tão doloroso e caminhar em águas mais tranquilas é muito mais prazeroso quando já passamos por um maremoto.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Algo sobre passeios e Big Bang
Passeando pelo
mundo a gente conhece mais gente, lugares, coisas, culturas, formas de viver. O
passeio dito aqui não é o simples sair andando por aí, como um errante
desordenado, mas um passeio da alma em encontro com outras almas. Refere-se ao
passeio da aprendizagem contínua, renovada e reciclada. Este passear é um verbo
diferenciado, porque como já foi dito, não é apenas sair caminhando, viajando,
conhecendo sem haver entrega. Para o passeio no caminho da aprendizagem é
imprescindível entregar-se, atirar-se em direção ao conhecer.
Existem
pessoas que colecionam fotos de lugares visitados, de pessoas conhecidas, de
viagens caras, mas que não existiu nenhuma entrega, nenhuma troca de energia
verdadeira em todos estes caminhos. As coisas simplesmente podem apenas ter
passado, ficaram fotos, registros mecânicos, mas poucos registros emocionais. Também
tem aqueles que pouco viajaram, que pouco conheceram de lugares incríveis a
nível turístico, mas que fizeram viagens fantásticas em cada encontro que
tiveram na vida. Essas pessoas sabem se entregar ao divino que é cada encontro.
Souberam valorizar cada vivência, extraindo o máximo de cada resquício ou
inundação que passaram. São as que aprendem mesmo; aquelas que não têm medo de
ir ao encontro sem saber o que vem por aí. Passeiam no mundo, nas pessoas, nos
livros, nos filmes, simplesmente elas passeiam de verdade, genuinamente. Dão
valor a cada pessoa que conhecem, sabem reconhecer a riqueza de cada uma, pois
se entregam e sabem que cada momento pode ser único e final.
Em
contrapartida, existem outros tipos de seres humanos que invalidam o seu próprio
processo de aprendizagem. São resistentes a entrega, colecionam coisas
materiais, até mesmo possuem boas estruturas intelectuais, mas pouco caminharam
nessa trajetória do aprender. O processo de adquirir conhecimento nem sempre
vem dos livros ou das inúmeras teorias, ideologias e filosofias. O aprender vem
da necessidade de se saber, de se entregar a cada sensação e experiência, de valorizar
pequenas coisas e pequenos vôos. É um processo contínuo e cansativo, onde se
erra e se recupera o fôlego.
O homem que
aprende é aquele que possui algumas cicatrizes, sejam físicas, sejam da alma.
Foi aquele homem que soube dar bons passeios e que ainda quer e não teme em caminhar
mais. Ninguém falou que a história da vida seria fácil. Se para o mundo se constituir mundo foi
necessário um “Big Bang”, segundo teorias evolucionistas, para se constituir
enquanto ser humano, não há problema em vivenciar algumas explosões internas em
cada caminhada. O importante é seguir passeando...
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