quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pequeno ensaio sobre uma fatia do bolo


É dada a largada do mundo adulto. Mas quando foi isso? A gente às vezes nem se dá conta, mas ao percebermos já estamos rodeados neste universo que na infância aguardamos tanto que chegasse. “Mãe, como é ser adulto?” Parei pra pensar nisso quando percebi em mim. Como tudo que produzo se relaciona àquilo que vivo, nada mais interessante do que fazer uma análise de dentro pra fora e de fora pra dentro. Adoro tudo que admite olhares diversos. Então, vamos falar sobre este momento através da análise que inclui o observador.
Vinte e poucos anos, já virou até música cantada por Raimundos e Fábio Junior (admito que prefiro a versão rock´n´roll brazuca de Raimundos). O que é que há de tão especial nesse nosso momento? Em cada âmbito da vida as coisas parecem modificar com passos largos e numa velocidade incrível.
Você começa a se dar conta que perdeu a paciência para certos tipos de conversa, para certos tipos de pessoas e de lugares. Sair todo final de semana deixa de ser a prioridade de sua vida e pensar no trabalho e carreira parecem tomar as grandes proporções dos nossos pensamentos. Não que a gente abandone o doce invejado da juventude das grandes “farras”, mas as coisas começam a fazer um sentido diferente. Você começa a gostar de estar com amigos na sexta-feira, conversando, ouvindo música, tomando uma e dando risada. Ou então de fazer seus pequenos prazeres e se deleitar com eles: ler, escrever, ouvir música, praticar alguma atividade e ficar vendo um filme. E quando você sai para fazer aquela farra, se sente morto no outro dia. Cansado, parece que não faz mais nada no dia seguinte. Começamos a achar graça disso, afinal existe a idéia do vigor da juventude.
São iniciados os primeiros ensaios no mercado de trabalho. Ainda meio sem jeito, um vôo que parece arriscado e desajeitado. Uns com estágios ainda, outros trabalhando as penosas 08h por dia (no meu caso, 08:30h). Mas nossos 20 poucos anos trazem muita ânsia e desejo de desafio nesse quesito. Nos jogamos, vamos em busca de mais. Começamos a investir em coisas que nem sabemos se vai dá certo. Investimos sem dinheiro para aplicar, o que é mais engraçado. O riso parece pequeno diante das mil possibilidades que criamos em nossos projetos. Queremos um futuro grandioso na carreira. Não é a toa que a nossa geração, a Geração Y, está sendo tão estudada pelos teóricos que pensam as repercussões deste grupo no mundo do trabalho. É um momento que devemos botar a conta em risco. Temos sede de fazer cursos, especializações, novas graduações. A cabecinha não pára, haja idéias! Queremos novas carreiras, queremos, queremos...
E quando toca no quesito relacionamento? Ah, esse sim é um prato cheio. Aliado às características desta nossa fase, existe o “boom” dos fenômenos relacionais contemporâneos, a velha efemeridade aliada à necessidade de criar vínculos. Ser humano que quer se unir e se afastar. Pensando nesta nossa fatia de vida, tudo pode acontecer. Relacionamentos duradouros, iniciados na adolescência ainda, caem por terra. A frustração vem forte e a gente sofre pra caramba com as mudanças, porque o sonho adolescente fazia a gente acreditar no “eterno”. Mas a necessidade de seguir adiante do jovem adulto faz com que isso vire um detalhe (detalhe escrito com letras garrafais em neon). Na verdade, passamos por cima, com dor, mas continuamos. Esta é a fase das tentativas, da descoberta de uma sexualidade mais madura e de novas formas de vínculos, às vezes nada duradouros, às vezes meramente casuais. Traz certa angústia e uma espera. O "ficar" desenfreado não tem a menor graça para a maioria, existe um pequeno (enorme) vazio. As pessoas sofrem silenciosas, todas conectadas em seus facebooks e outras redes “sociais”, mas totalmente desconectadas umas das outras. E quando vem uma paixão? Nossa, é desconcertante! É tão estranho e alheio que às vezes a gente cai fora, sai correndo. Às vezes a gente queria ficar sozinho mesmo, cansamos disso de ter alguém que não temos. Mas nem só de liquidez é feita esta fase. Muitas vezes relações iniciadas aqui duram, duram, duram... O problema é que nos tornamos muito individualistas, talvez o segredo seja abrir mão mesmo. Mas para a juventude pós-moderna isso é um momento, existem tantas outras preocupações. Todos têm a mesma “fé” e não se afligem: vão se encontrar em algum bom encontro (ou não).
A nossa saúde também precisa de atenção especial. Eu sempre fui meio sedentária, enchia a boca pra falar “eu malho o cérebro”. Mas agora mudei o pensamento e a atitude, afinal, o corpo e a mente estão juntos e não dissociados. Nosso metabolismo já não é o mesmo dos 15 aninhos. O corpo, então, muda total (quem dera o de 15 aninhos).  A pele precisa de cuidados anti-envelhecimento (ah, que cedo). Haja cremes, protetor solar, gasta-se. Quem achava um saco ir pra academia, agora vai “na marra” e começa a se “amarrar”. Começamos a tentar encaixar em nossas rotinas, o bem estar e o cuidar-se. Ouvimos dos mais velhos “se cuide, a idade chega com força”. Tememos a velhice e vamos correndo em nossa juventude sempre melhorando. Procuramos mais médicos e queremos sempre aprimorar a estética. Isso, nós geração Y, estamos quase craques. Até da Mc Donalds das madrugas começamos a nos despedir aos poucos (cara triste) e optamos pelo Subway (que não é o metrô).
São muitos os “setores” da vida. O engraçado e diferente é justamente dar um “adeus” à adolescência, onde as coisas ainda eram muito compreendidas, e dizer “olá” para um lugar desafiador e amedrontador. Essa é fase do surto da esquizofrenia, os amigos psicólogos sempre brincam “estamos em plena idade para surtar”. Mas isso não parece assustar tanto, as possibilidades vêm com beleza também. E cada erro pode ser visto como aprendizagem. Estamos sempre nos equilibrando entre o frescor de sermos jovens e a rotina esmagadora da vida adulta. Período de novas crenças, de reativar velhas e de se apoiar na família. Começamos a perceber mais ainda o quanto a família é importante. Grudamos em nossos irmãos, pais, tios, primos. Escolhemos melhor nossos amigos íntimos, temos poucos às vezes, mas que sabemos que são família também. Conhecemos gente, temos sede de mundo, de viajar, de novas culturas. Queremos tanto... Unido a tantos quereres, vem á tona às nossas faturas de cartão, mensalidades, compras, boletos... Finanças é o meu calo! Mas a coisa boa está justamente aí, temos chance de errar e ir aprendendo. Temos uma vontade tão grande que tudo parece ir tomando um rumo. E isso que eu chamo de rumo é a própria construção de nossas vidas. É por essas e outras, que esta fase é digna de atenção. Por isso incentivo que seja vivida com muito entusiasmo e que se saboreie cada momento, desfrutando e aprendendo.